Romance 2


Sedento por ti


Imaginei que o amor só batia na porta de quem geralmente grita com o coração, mas eu tive a sorte de encontrar a minha morena. Cheguei do serviço um tanto tenso com meu uniforme de policial todo ensangüentado, foi um dia triste, mas sobrevivi graças ao bom Deus que cuida dos que dão á vida por outro Ser. Tenho orgulho de ser honesto, mesmo sabendo que a metade da policia é corrompida, jamais poderia ariscar meu casamento, minha vida pessoal á barbaridades imperdoáveis, pois conheço á sociedade vim da periferia e continuarei a lutar por um país seguro. Minha linda esposa estava na cozinha preparando o jantar, me aproximei sem que ela percebesse e a agarrei a cintura dela por trás beijando seu pescoço, seus pelos arrepiaram, ela me olhou com ar sedutor mordendo um morango bem vermelho deixando cair pedacinhos em sua boca. Eu a beijei sorrindo:
- não se assustou com minha presença?
Estranhei:
- não, vi seu carro...
Inteligente e simples, ela só se espantou ao se virar e ver meu uniforme ensangüentado, ficou um tanto histérica:
- o que aconteceu? Atiraram em você?
Se isso tivesse acontecido não estaria em casa, mas acho que ela só se apavorou para dizer uma barbaridade. Tive que ser calmo, fui cauteloso:
- calma querida. Estou bem. Vou fazer um seguinte, tomarei banho em seguida jantaremos juntos e conversaremos ok?
            A beijei de leve em teus lábios carnudos, ela nunca aceitou meu envolvimento direto com a população, queria que eu tivesse um escritório e não me movesse de lá, mas tenho sangue na aveia amo adrenalina, e morrerei para salvar vidas se for necessário. Eu dei um jeito de fugir e fui direto para o meu banheiro, ao entrar liguei a torneira da banheira enquanto tirava toda a roupa, me sentei em cima do tapete azul marinho de pelo e lembrei-me das ruas perigosas, dos tiros, das pólvoras
           Ao sair do banheiro, coloquei meu roupão vermelho e fui em direção a cozinha, estava um cheiro ótimo de comida fresca e suco natural de manga. Sentei-me ao lado de Catarine e conversamos um pouco sobre o dia dela, não queria falar de como tinha sido o meu dia, triste demais para uma ocasião tão romântica. Terminamos de jantar e enquanto eu tentava lavar a louça, mas ela me mordia a barriga querendo me puxar para teus braços, não resisti. Todo homem é fraco demais quando si tem uma linda esposa em casa. Ela tirou seu casaco e ficou apenas com a calcinha rosa, agarrei ela colocando-a no chão da sala em cima do carpete beijando todo seu corpo perfumado. Enquanto ela tirava meu roupão úmido eu me deleitava nela querendo sugá-la, mordi seu pescoço e penetrei nela com meu amor em seguida deixei rolar as caricias junto com beijos sedentos. Seu suor se juntou ao meu, seu gemido de mulher fraca me fez contrair todo o corpo querendo amá-la como nunca ousei fazer. A madrugada foi chegando e ganhando seu espaço, meus olhos já não conseguiam fixar em minha amada, queria dormir, sossegar na cama macia por algumas horas. Eu a acordei de um sono profundo ainda deitada no carpete da sala, ela se despertou me olhando e bocejando. Eu a levantei e a guiei para o quarto, nosso ninho de amor. Enfim consegui pegar no sono, descansei minhas pernas doloridas e naveguei no mundo das ilusões.
            O dia clareou todo o quarto, senti sua mão de mulher perigosa me tocar o tórax devagar, tocando meus pelos arrepiando-me, abri lentamente meus olhos e a beijei mesmo com meu hálito ruim, quis me entregar mais uma vez ao corpo dela assim como quem provoca a onça com vara curta, desliguei o despertador que me indicava que já eram seis da manhã, dia duro para um policial, em uma hora tinha que estar pronto para começar meu dia com aventuras e sangue frio. Depois de fazer amor com minha espoca, tomei outro banho enquanto ela preparava meu café da manhã, tive que ser rápido, pois a pior coisa era atrasar e inventar qualquer desculpa sem noção. Eu terminei de tomar meu delicioso café com Catarine, peguei uma maçã e a mordi saindo pras ruas, enquanto eu sabia que ela estaria orando por mim, pra que a noite eu pudesse retornar em casa sem feridas. Ela ficou assim depois de ter me conhecido, agora temia pelo meu fim, pelo mundo, pelo o que poderia acontecer comigo, pois corro risco desde quando saio de casa até ao estacionar o carro na garagem de casa ao anoitecer, mas não vou temer, quero ter filhos e morrer na velhice. Percebi uma movimentação em uma padaria, talvez fosse um flagrante, despertei algumas unidades, para me dar reforço, percebi de longe que era um assalto. Sai do carro e entrei na padaria como quem não quer nada, mas meu uniforme era quem me condenava. Um cara me encarou viu eu sem parceiro e sacou uma pistola em minha direção, eu ergui minhas mãos, enquanto a escandalosa da mulher que estava atrás do caixa chorava com gemidos ardentes.
            Eu pedi para ela se acalmar que o procedimento era rápido e simples, mas ela parecia não me ouvir. Por sorte o ladrão estava aparentemente sozinho com uma única defesa nas mãos, eu não poderia sacar minha arma, pois ele atiraria por ficar apavorado, então tentei acalmá-lo:
- Calma... Caro o que você precisa? Sabe se você fosse um ladrão experiente roubaria quem te rouba, isso é obra pequena demais, é apenas uma padaria desregulada com poeira nas vitrines. Daqui alguns segundos, varias viaturas estarão aqui, te prenderam e você não conseguirá fugir nem levar nada, por que não coloca a pistola no chão e vai embora?
            Ele estava agitado colocava a pistola em sua própria cabeça, ficava pensando em alguma saída, alguma estratégia. O ladrão com certeza estava com sintomas de usuário de drogas. Ele mesmo estando apavorado pegou todo dinheiro do caixa e guardava em uma mochila de escola publica. Eu tentei sacar minha arma para deixá-lo imóvel, mas a mulher idiota gritou quando me viu fazer um movimento brusco. Algumas viaturas chegaram em seguida, mas fui baleado na perna esquerda e cai antes de conseguir atirar, ele fugiu pelos fundos da padaria, alguns policias invadiram o local rendendo a moça que gritava. Eu tentei falar para ele seguir o ladrão que fugia, mas foi em vão, pois apaguei. Imagino que um policial foi dar a noticia de que eu estava internado á minha esposa, ela com certeza desmaiou ou teve outra reação escandalosa. Eu fui levado para o pronto socorro mais próximo dali e fiquei internado uma semana inteira, ouvindo o choro de minha amada me implorando para largar minha carreira, mas nada poderia fazer contra minha própria vontade de continuar. Ela me olhou com seus olhos cheios de lágrimas e com voz tensa:
- amor, eu te amo, sei que ficará bem, não quero que morra...
Convencê-la de que eu estava bem e não iria morrer estava fora de cogitação, pois ela não parava de chorar e suas palavras penetraram em mim me dando alguma força, tinha que continuar era forte demais para deixar-me influenciar, mas minha amada conhecia meu ponto fraco, só ela. Com um toque suave Catarine tocou sua barriga e isso me fez manifestar um sorriso, pois ela insinuava para meus olhos que estava grávida, meu sonho se realizou tão intenso e real. 


Viagem

Hoje acordei sozinha na cama, geralmente durmo na casa do meu namorado, mas como ele foi dormir na casa de um amigo, tive que me acostumar em me cobrir com o edredom e sentir a maciez do meu travesseiro. Sentei-me na beira da cama e reli a carta que ele tinha feito na noite passada...
‘- Minha linda,
É muito precioso para mim estar ao seu lado e compartilhar bons momentos inesquecíveis contigo, imagino que já esteja fazendo as malas, você é muito ansiosa, tenho certeza que iremos nos divertir muito nesses dois dias preciosos. Me perdoe por ter dito certas coisas á você, se o erro foi meu, não quis direcionar toda minha raiva e angustia para seu coração amadurecido e fiel á mim, seria mais prudente se minhas palavras soubessem como confortar seus tristes momentos, mas não sou muito bom em relacionamentos. Feliz dois anos de namoro e fidelidade, parabéns pela mulher e adolescente que você tem sido, te quero para todo o sempre e espero que você queira o mesmo...
Estar ao seu lado é fantástico, posso imaginar a felicidade daqui alguns anos, posso sentir hoje meu coração palpitar e gritar um pouco mais, só para ficar ao seu lado, espero que continuemos a olhar sempre na mesma direção, pois só assim continuaremos sendo um só, você supera a menina que tem dentro de você e abri portas maravilhosas onde nos vemos em um sonho juntinhos e estável.
Eu te amo, meu amor Laura...’
Suspirei mais uma vez ao dobrar novamente a carta procurando me confortar com aquelas palavras de homem apaixonado. A guardei em um dos meus esconderijos secretos e voltei a deitar-me, sonhando acordada de bem com a vida e contando as horas para estar ao lado de Lucas. Me cobri com meu edredom e cruzei os braços olhando na direção á janela que eu deixei aberta só para me deparar com o brilhar de uma noite fria, a lua estava laranja, talvez fosse minha falta de visão, mas a cor era nítida assim como seu tamanho exagerado bem na minha frente. Ainda eram duas da madrugada, o sono fujão decidiu voltar de leve fechando minhas pálpebras delicadamente deixando meu corpo frágil, deixei cair minha cabeça no travesseiro para me achegar ao sono. Lá fora se ouvia o barulho do vento isso me deixou mais vulnerável ao sono, só se ouvia a paz tranqüilizando as ruas agitadas de São Paulo, até parecia que a violência já não existia mais, que as pessoas ainda se cumprimentavam na rua com um belo sorriso, mas só poderia ter sido sono mesmo, pois fui acordada com o clarear da luz, pela manhã, Lucas me acordou com beijos tirando meu edredom.
Estava um tanto frio, mas me animei ao vê-lo com suas malas feitas no chão perto da porta do meu quarto. Ele me contaminou com seu sorriso, dentes branquiados e uma pele macia se unindo á minha com um abraço cheio de amor. Procurei meu vestido longo florido em meu guarda-roupa e peguei a toalha roxa que estava na porta do banheiro, enquanto Lucas fazia companhia para minha mãe na sala, procurei ser a mais breve no banheiro, lavando meus cabelos ensebados e tirando o perfume antigo, para colocá-lo novamente. Fiquei pronta em meia hora, sabendo que pra ele isso era uma eternidade. Peguei minhas malas já prontas e beijei minha mãe em seu rosto e lhe dei um abraço bem forte de despedida, já estava sentindo saudades antes mesmo de partir, minha irmã casula pulou em meus braços com um grande beijo em minha testa. Sai de minha casa colocando as malas no porta malas do carro do meu amor e saímos dali em direção ao nosso destino, Santos, estava com saudades do mar, da água de coco em pleno sol quente e de caminhar a noite na areia do mar.
A viagem foi tranqüila ouvimos músicas de todo tipo e tribo, vi paisagens maravilhosas outras nem tantos. Senti o ar quente em meu rosto, derramei água nas costas de Lucas depois fiz o mesmo comigo, para diminuir o calor. Assim que chegamos no apartamento de frente para o mar, coloquei meus pés da areia quente e corri para ajudá-lo descarregar as bagagens. Aquele apartamento era minúsculo, mas tudo de bom acordar com o barulho do mar e com gritos de crianças totalmente desconhecidas. Aquele dia limpei todo local deixando com um cheirinho de casa fresca, enquanto Lucas foi ao mercado fazer uma bela compra para preencher todo o armário. Queria sair dali e mergulhar na água do mar, mas não poderia deixar Lucas no mercado em uma vila quilométrica, só para me divertir, não seria justo, foi por isso que liguei a TV antiga dele e me sentei no sofá. Achei que aquele dia nós divertiríamos, mas ele demoro tanto que acabei pegando no sono, como eu o conheço muito bem, ele deve ter chegado arrumado as compras dentro do armário e se deitado no outro sofá só para não me incomodar. Ao acordar, tive a certeza de tudo que imaginei, pois ele estava cochilando no outro sofá com a boca aberta.
Levantei-me para preparar alguma coisa, o sol já não estava tão forte, pois a tarde vinha chegando de pressa, retornei a olhar o mar fiquei triste por não poder me achegar nele, mas tentei compreender o cansaço do meu amor. Fiz arroz ao forno com batatas fritas e refrigerante, Lucas acordou me procurando com um olhar assustado, acendeu a luz da sala e veio em minha direção beijando-me. Ele preparou a salada de maionese e tirou o sorvete do congelador, fizemos um jantar perfeito com direito á velas em um escurinho sedutor. Em algumas horas o céu azul claro já não era mais o mesmo, ficou azulado querendo cair à noite, Lucas ainda jantando me olhou com cara de cansado:
- desculpe, sei que você queria ir para o mar, é que eu estava tão cansado que nem me incomodei em tirar um cochilo...
Eu sorri como quem queria não ligar para o que não aconteceu, mas foi difícil, pois meu jeitinho de menina mimada o deixou tristonho:
- vamos caminhar?
Eu o fitei com cara de quem queria mais:
- agora são cinco e quarenta, a noite ainda não caiu, vamos nos trocar e ficar na areia vendo o mar?
Ele foi obrigado á aceitar, ou era isso ou nada. Em menos de cinco minutos eu fiquei pronta, ele enrolou um pouco mais, talvez esse nem fosse seu planejado, mas minha vontade era de cair no mar mesmo a água estando gelada. Ao sairmos do apartamento corri para perto da água e não agüentei o deixei parado na areia enquanto me molhava, ele assoviou para mim e se sentou na areia, eu corri em sua direção e pulei em cima do corpo quente dele:
- Laura, não faça isso...
Não me contive, queria um pouco mais daquela energia relaxante, ele tocou meus lábios como se estivesse tocando meus seios. Ficamos ali na areia do mar até o sol partir de vez e encararmos a noite sigilosa em nossa direção, quente como o fogo, trazendo um vento abafado.




Sob domínio do Inimigo

               Eu que sempre me julguei forte me vi naquele momento sem saída, Luiz me encarou com seu ar sedutor e me jogou na cama como se eu fosse um objeto, mas eu gostava de ser tratada daquela forma, como se meu corpo necessitasse do corpo dele de seu suor, como se eu fosse sua prisioneira. Ele me mordeu a virilha deixando uma marca, me puxou os cabelos transados e com a outra mão me deu uma bofetada na cara, nada romântico, mas sim selvagem, ele gritou em meu ouvido pedindo para eu cuspir em seu tórax, deixei a saliva de minha boca se preencher e mandei pra fora o deixando excitado. Após nosso lance de despedida, fui para a minha casa e vi meu marido Jorge limpando a casa, eu arrumei meu cabelo abaixando os fios volumosos e entrei em casa com cara de quem estava aprontando, mas preferia disfarçar. Eu o olhei com um sorriso alegre e extrovertida como se nada estivesse acontecido em algumas horas anteriores, e joguei minha bolsa de coro no sofá beijando-o com um selinho rápido, decidi por hora tomar banho estava com o gostinho de safadeza no ar, então corri ao meu quarto escolhi uma roupa leve e entrei no banheiro lavando todo meu corpo. De repente meu celular tocou, Luiz sabia que eu era casada e gostava de desafiar meus limites, sai do banheiro ainda com espuma em todo corpo me enrolei em uma toalha e corri até meu quarto para atender, ele suspirou do outro lado da linha enquanto eu ria sem parar, era adrenalina demais para um dia inteiro.
               Ele sussurrou:
- minha cachorrinha, quero te ver amanhã bem cedo aqui...
               Olhei para os cantos do corredor perto da porta do meu quarto e inventei um nome para disfarçar qualquer dúvida:
- claro Maria, pode deixar que irei com você ao shopping amanhã, vou falar com Jorge se ele me leva...
Luiz sorriu com ironia:
- isso traga o boi também, assim ele pode ser nosso publico...
               Eu sorri da situação, pois precisava daquele homem que perseguia meu cheiro. Para disfarçar mandei um beijo repetindo o nome ilusório, ao desligar o celular fui surpreendida com os passos lentos de Jorge:
- quem era?
               Seu olhar parecia ser de desconfiança, mas continuei mostrando minha frágil paciência:
- era a Maria do meu serviço, você não á conhece, ela me pediu que eu fosse amanhã bem cedo ao shopping com ela. Eu disse que você me levaria de carro.
               Ele pareceu se convencer diminui o tom:
- você se esqueceu que amanhã tínhamos combinados de irmos ao super mercado?
               Nada poderia dar errado, fingi como atriz da minha própria realidade:
- amor não vai dar, faz um seguinte você me leva ao shopping e em seguida vá para o mercado... Ela sempre me convida pra sairmos e eu nunca vou...
               Ele me olhou tristonho abrindo mão mais uma vez da minha companhia:
- tudo bem, eu te levo...
               Eu abri um sorriso grandioso e ainda com sabão no corpo caminhei até o banheiro, mas ele me seguiu querendo me amar, mas eu o rejeitei inventando que estava cansada. Jorge com um olhar de cachorrinho colocou o rabo entre as pernas e saiu de perto de mim. Estava atraída pelo perigo, sempre sinto remorsos de fazer isso com Jorge, mas já não dava para ficar sem Luiz, pois ele era um homem que tinha uma pegada diferente talvez mais atraente, penso em parar de enganá-lo e ficar com Luiz, mas talvez eu sinta falta de ter um amante, e a minha estabilidade me prende á esta casa. No dia seguinte acordei sozinha antes do despertar do relógio, estava ansiosa, Jorge roncava ao meu lado, me levantei pegando uma roupa social e um salto alto. tomei outro banho e deixei meu cabelo preso com rabo de cavalo. Jorge acordou talvez com o barulho do chuveiro e já não estava na cama, desde a escada e senti cheiro de café o vi preparando enquanto eu me acomodava na cadeira. Meu silêncio era comum como toda manhã, mas ele quis puxar conversa:
- sabe penso que tudo que fazemos, é devido as nossas escolhas, não podemos nos mascarar e dizer que a culpa é do vizinho ou de Deus, mas somente nossa por caminharmos contra nossos sonhos.
               Não compreendi toda aquela conversa, até pareceu saber que eu mantinha um romance secreto. Movimentei meus lábios como quem concordava:
- o que quer dizer com isso?
               Irônica como sempre, ele que era o homem mal amado e eu ainda consegui ficar tranqüila com o coração acelerado, ele não me olhou por nenhum minuto, ficou de costas terminando o café:
- nada, só lembrando de que colhemos aquilo que plantamos...
               Ele se virou agora com uma xícara nas mãos:
- quer uma xícara de café?
               Neguei rapidamente por achar que ele fosse capaz de me envenenar, estava ariscando demais, mas fingi que não compreendia minha missão por falta de capacidade de pensar e me levantei:
- estou pronta vamos?
Ele sorriu pra mim, se aproximando, tocou minhas mãos frias:
- tem certeza que quer ir?
               Sorri como se ele buscava algum motivo para que eu ficasse, mas minha vontade somente aumentou ao olhar para ele e perceber que ele era um perdedor trabalhista:
- é lógico que quero, a Maria está me esperando...
Ele terminou de beber o café e pegou a chave do carro no porta treco, eu abri a porta de casa entrando na garagem. Jorge me levou em direção ao shopping me deixando em frente. Ele pareceu estranhar alguma coisa, antes que eu saísse do carro, ele me olhou com um olhar diferente, tocou minha nuca como antigamente e me beijou os lábios como se me amasse, eu tentei sair de seus braços, mas ele me apertou tanto que tive que virar meu rosto ignorando-o com outro sorriso amarelado:
- o que foi isso?
Ele me olhou com os olhos cheios de lágrimas e abaixou a cabeça sem dizer uma palavra sequer. Eu voltei a perguntar:
- por que me beijou assim?
               Mais ele pareceu estar com pressa e me fez sair do carro. Eu desci pegando minha bolsa, ele dirigiu em disparada, eu atravessei a rua e corri para a casa de Luiz, mas algo ficou me perturbando, seu toque, seu beijo me fez querer ficar ao lado de meu marido, mas Luiz como sempre me arrancou a roupa tirando-me da realidade. Ele me serviu uma bebida, vi a luz escurecer estava sem forças, minha perna mole me fez dormir. Eu acordei assustada procurando meu relógio, Luiz com um sorriso malicioso se sentou ao meu lado:
- hoje é outro dia, seu marido não parou de ligar para você ontem, mas relaxa eu não atendi.
Eu me levantei ainda zonza um tanto nervosa:
- o que você colocou na minha bebida?
               Ele me pegou em teus braços me fazendo de refém, o desejei ali antes de voltar para casa. Tentei ligar para meu marido, mas ele não atendia o celular, o telefone da minha casa só tocava desesperadamente, tentei ser a mais cautelosa possível, estava pensando em uma desculpa original, mas seria em vão, pois quando coloquei meus pés dentro da minha sala, vi um envelope grande jogado no chão, eu me sentei o abrindo, ali estava fotos minha com Luiz e uma carta em manuscrito:
-              Espero que tenha curtido esses três anos com seu amante. Eu soube desde o início quando você se envolveu com esse cara, mas só agora tive a coragem de sair de perto de você, fiquei sabendo por outra pessoa que você viajava com ele, sempre se encontrando as escondidas com medo de que eu descobrisse, mas não se preocupe estive ao lado de uma linda mulher quando vi vocês se beijando na praça perto da casa dele. O nome dela é Cristiane e temos um menino de dois anos o nome dele é Jack, agora terei uma família e me ao lado dela que sempre me apoiou mesmo eu sendo chifrudo por um amor que não me merecia. Sabe por que nunca quis que você engravidasse? Porque nunca confiei em você, nosso casamento quando completamos cinco anos era maravilhoso, eu tive planos ao seu lado, mas depois de três anos percebi que você estava diferente, fui atrás e olha o que o destino me preparou, hem.
            Fique tranqüila, a casa é sua pela consideração de Cristiane que não é uma mulher ambiciosa e calculista. Espero mesmo que você morra ao lado de seu amante e faça muitas conquistas ao lado dele, você nunca mais terá noticias de mim, colocarei uma pedra em cima do nosso passado e das lágrimas que derramei. Boa sorte, minha triste lembrança. ’  
               Minhas lágrimas escorriam em meu rosto como se ainda estivesse sendo a vitima, vasculhei toda casa até me deparar com meu próprio egoísmo. Joguei meu celular no lixo assim como fiz com minhas lembranças ruins, me tranquei no quarto e sente-me no chão, percebendo que exagerei ao extremo, estraguei minha família, meus sonhos e planejamentos. Agora estava com minha solidão, apavorada querendo alguém para conversar, desabafar, mas ninguém apareceu. Deixei o vento frio me congelar, não estava preocupada com o frio lá fora, mas com meus pensamentos monstruosos que me dominavam. Já não queria cometer o mesmo erro, não liguei para Luiz, mas minha vontade era de ficar ao lado dele e explorar uma nova fase. O tempo se fechou junto com o meu coração inquietado.


                                             
Sopro de Anjo

Meu calcanhar deslizou junto com a fraqueza das minhas pernas, penetrar em um mundo desconhecido foi vivenciar uma nova fase. Achei que fosse morrer, pois senti o ar frio em minha pele como sopro de outro mundo, um rapaz se uniu á mim me envolvendo em teus braços, me abraçou fechando meus olhos, ele parecia um anjo em minha direção. Minha respiração ofegante dizia palavras silenciosas algo que não consegui decifrar naquele momento tão distante da realidade. Percebi que fui atingida no peito por uma bala perdida. Quando o baque me atingiu deixando-me cair no asfalto de uma calçada suja, o rapaz me olhou sem desespero, tranqüilo enquanto esperava algo, talvez estivesse esperando que eu morresse em teus braços. Ouvi de longe com clareza o barulho de uma Ambulância, me desesperei enquanto o rapaz me abraçava, ele estava neutro sem expressão diante da minha situação grave. Colocaram-me na maca com cuidado, alguém perguntou o que tinha acontecido, o rapaz intruso foi quem respondeu:
- ela foi atingida no peito por uma bala perdida...
Não consegui ouvir mais nada, pois fecharam a porta da Ambulância. Tudo que eu mais temia que acontecesse estava diante dos meus olhos, percebi ali que eu não era nada além de pó, queria pedir perdão para minha mãe, mesmo reconhecendo meu orgulho, da filha rebelde e sem classe que fui. Queria ouvir os gritos da minha irmãzinha pela manhã, mas nada disso poderia fazer, pois meu caso se agravava a cada tentativa do meu respirar. Vi com detalhes a minha imagem de garota rebelde e estúpida perante pessoas maravilhosas, vi em um espelho da verdade onde refletia somente meu egoísmo a pessoa desonesta que fui tanto para a sociedade quanto para minha família. Nunca me imaginei necessitar de outro Ser, pois sempre preguei ser independente e capaz de me recuperar sozinha, mas naquele momento não me vi em condições de enfrentar nada, além dos monstros da minha mente.
O movimentar da Ambulância me incomodava, pois a pressa do motorista era incrivelmente assustadora. Eu sabia que nada do que eu me arrependesse poderia me fazer ficar, parecia não ter julgamento, com sangue frio voltei a respirar ao chegar a um hospital barulhento, nenhum parente, ninguém sabia que eu estaria ali. Fui direto para a sala de cirurgia, ninguém avisou os meus familiares, algo estava errado. Enquanto parecia que meu espírito saia de meu corpo senti falta do meu tempo de menina, meu futuro estava nas mãos de profissionais que nem ao menos sabiam meu nome.
É estranho imaginar que não verei o fim do mundo e muito menos terei filhos como sempre planejei, seria eu apenas mais uma vitima. Recordei do brilho no olhar de minha mãe a me ver passar de ano no colégio, algo tão insignificante aos meus olhos que nem dei tanta importância. Lembrei da morte do meu pai, de que não consegui derramar nenhuma lágrima. De milhares de vezes que toquei minha irmã do meu quarto, só por causa do egoísmo. Fui covarde, não fui boa o suficiente para dar valor, mas ainda sinto meu coração. Em um despertar quase improvável diante de pessoas que precisavam ouvir minhas desculpas, mergulhei no abismo e somente chorei, não acreditava na segunda chance da vida, mas Deus foi bondoso em me trazer de volta, vi de perto o sofrimento no meu subconsciente, de que nada do que eu fiz valeu á pena, mas quis jogar fora meu passado para renascer. Minha mãe me abraçou delicadamente, enquanto minha irmãzinha de sete anos segurava minha mão, respirei fundo até perceber que estava no lugar errado, não queria estar ali, fui pega de surpresa, o destino pregou uma peça em mim sem que eu percebesse.
Um médico se aproximou de mim e minha mãe se reergueu o olhando enquanto ele falava:
- ela passou por uma cirurgia muito delicada, achamos que a perderia por um instante, pois pareceu não responder, mas como não acredito em milagres, foi muita sorte, ela tem pé quente.
Ele tocou sua mão no ombro de minha mãe antes de sair do quarto:
- em breve ela poderá voltar para a casa. Com licença.
Explicar o que aconteceu comigo é surreal, eu acredito em milagres, talvez fosse isso que me salvou, a minha fé. Minha mãe ficou um pouquinho comigo, mas logo foi embora levando minha irmã, ela precisava ficar em casa, ao contrário não encontraríamos nada no dia seguinte, pois o meu bairro é terrivelmente assustador, onde criança faz o espetáculo e os adultos aplaudam. Vi-me sozinha em uma solidão a qual não queria me submeter, senti meu pulso, o suor da minha nuca e o vento frio que passava da janela do quarto até meus pés. Sorri para eu mesma por me ver viva, se fosse tudo um sonho jamais iria querer voltar à realidade, não acredito na sorte pré-destinada e muito menos nos políticos que só prometem segurança á população, desejo tanto sair daqui e revolucionar meu mundo onde crio fantasmas e monstros. De repente uma pedrinha atravessou a janela do meu quarto e ouvi um assovio de leve, uma enfermeira entrou em meu quarto olhou o chão pegou a pedrinha e a tacou de volta para fora da janela, me olhou com cara de nojo e fez algumas anotações em seu bloco, saiu em disparada, parecia que eu tinha alguma doença contagiosa para que ela nem se aproximasse de mim.
Estava agitada os dias passavam bem lentos, o relógio da parede estava sem pilha, mas o importante era que meu coração palpitava dentro de mim. O mesmo médico descrente se aproximou de mim me dando alta, em algumas horas minha mãe e minha irmã chegariam ao hospital para me pegarem, era tudo o que eu precisava. Consegui tomar um banho e me arrumar estava pronta para voltar para casa, enquanto uma enfermeira fazia questão de pentear meus cabelos oleosos eu lia uma revista de fofocas. Em pouco tempo minha mãe chegou, eu a abracei mais uma vez lhe dando um beijo no rosto fiz o mesmo com minha irmãzinha, ao sairmos do hospital um rapaz veio em minha direção, com um olhar conhecido, mas não me lembrava da onde o conhecia. Os carros da avenida estavam em câmera lenta, até o vento em meu rosto batia bem devagar, meus cabelos voaram contra o vento e o rapaz passou diante de mim me fitando com um olhar penetrante.
Minha mãe me puxou o braço para que eu andasse, mas me senti fraca, sem reação, fiquei com o coração acelerado não consegui explicar o que estava sentindo. Fomos para casa em fim, estava em meu quarto, minha irmãzinha entrou batendo na porta e me deu um beijo de boa noite, mas eu quis agarrá-la fazendo cócegas. Precisava me recompor, ser uma pessoa melhor para eu mesma e me corrigi diante da minha família. Manuela saiu correndo do meu quarto, eu me levantei para fechar a minha janela e fui surpreendida com a presença do mesmo rapaz na saída do hospital, coloquei a mão no peito, pois levei um susto e me concentrei em fechar a janela. Ele me olhava na calçada do outro lado da rua olhando para mim, como se quisesse dizer algo. Eu encostei a janela de vidro e percebi que o rapaz se aproximava atravessando a rua para perto da minha casa.
Eu não senti medo, estava calma, ele fechou seus olhos e os abriu novamente:
- Julia?! Este é o seu nome, não é?
Eu fiquei pasma, pensei que estivesse com amnésia por não me lembrar daquele rostinho familiar, eu voltei a abrir a janela de vidro para questioná-lo:
- da onde eu te conheço?
- você levou um tiro no peito, eu estava lá com você, enquanto delirava, me chamou de anjo e depois se apresentou como Julia. Você não se lembra?
Fiquei pasma ao ouvi-lo, tentei me lembrar de algo daquela tarde, e reconheci aquele rostinho de menino, eu continuei olhando-o:
- espera, vou descer.
Peguei meu casaco lilás e uma toca, desci a escada delicadamente, mas foi em vão, pois minha mãe estava na sala assistindo Tevê, eu a olhei espantada por ela estar acordada, mas ela veio com seu interrogatório:
- aonde você vai? Esta com dor?
Gaguejei, mas tive coragem de enfrentá-la:
- mãe, eu estou bem... Vou no portão... Já volto, vou conversar com uma pessoa.
- com quem?
- um amigo...
Sai da sala e me aproximei do portão, lá estava ele com seu olhar me contagiando, o abracei sem que ele falasse algo, e fechei meus olhos, lembrando-me daquela tarde. Detalhes eu não me lembro, mas que um anjo estava tranqüilo a me guiar tinha certeza, era ele quem me abraçou ainda ensangüentada sem se preocupar com a roupa suja de sangue. Sem se envergonhar em fazer um ato de amor á uma desconhecida, abri meus olhos com um sorriso de orelha a orelha e suspirei:
- era você... Obrigado por ficar ao meu lado.
Ele me olhou com algumas lágrimas nos olhos:
- aquela bala era pra ser minha, era eu quem deveria estar em seu lugar...
Minhas pernas estremeceram, o abracei mais uma vez e sussurrei em seu ouvido:
- acalmasse, Deus sabe de todas as coisas.
Ele me apertou um pouco mais inundando meu Ser e me transformando em alguém melhor. 




Ps: A carta
                            
Ao olhar seu corpo descoberto na cama fiquei com vontade de voltar a me deitar, mas estava me sentindo perfeitamente bem acompanhada queria me unir à solidão por um instante. Sentei-me na poltrona vermelha que costumava deixar do lado do guarda roupa preto, meus olhos sedutores conseguiram enxergar Bruno que ainda dormia tranqüilo em meu quarto. O vi pelo clarear de uma luz do poste que vinha da rua e atravessava minha cortina branca com detalhes vermelhos. Queria me acostumar com sua presença ali me controlando os passos, mas percebi que ele estava ali por um pedido meu. Olhei para a minha outra cômoda e vi novamente ainda sentada o lírio que Bruno me presenteou, aquele tempo era único, sabia que jamais teria dias como aquele, momentos tão importantes e pessoas tão maravilhosas sempre me apoiando e me admirando como a tal louca que criei no cantinho de cada coração.
                                           Queria me aconchegar nos braços de Bruno novamente, mas já estava decidida em partir, sem despedidas duradoras onde á choros e saudades, não queria isso. Olhei meu relógio de pulso e vi que já era cinco da manhã, meu vôo sairia as sete, não queria me atrasar. Minhas malas já estavam prontas no chão da sala do meu apartamento, antes de ligar para algum taxista, me troquei sem tirar o cheiro de amor que me invadia o corpo, arrumei meu cabelo com um simples rabo de cavalo e envolvi o rosto de Bruno com um toque dos meus lábios, sem que ele viesse a acordar. Peguei meus óculos de grau e o coloquei em meu rosto, Bruno se remexeu na cama como se quisesse continuar a sonhar, fechei a porta do quarto lentamente sem fazer barulhos e lembrei-me de escrever uma carta, voltei a me sentar, mas agora na sala em meu sofá rasgado, puxei a mesinha de centro para perto de mim com uma folha branca e uma caneta preta:
Amor, viajo hoje sem me despedir por não saber chorar na sua frente, sei que vou sentir sua falta. Espero que se sinta a vontade em meu apartamento, volto em dois meses para o nosso lar. Agradeço pelo homem maravilhoso que você está sendo pra mim e por deixar dividir sua vida na minha, pois até alguns anos atrás eu era solitária e egoísta, mas estou aprendendo a me desapegar de coisas banais, pois percebi que você é algo mais importante na minha vida. Vou dizer aos meus pais que encontrei a pessoa certa para me casar um dia, tenho certeza que meu pai vai te adorar assim como minha mãe também. Amei os lírios que você me deu, mas não posso levá-los comigo, morreriam em menos de alguns segundos. Obrigado por ter aceitado morar aqui, é estranho tê-lo no meio da minha bagunça, mas tenho certeza que vou me acostumar, se puder cuidar do meu gato Mimi agradeceria de coração, a ração dele fica debaixo da pia, coloque-o para fazer suas necessidades todos os dias na areia que coloquei na varanda, ao contrário o apartamento ficará incendiando de nojeiras. Se encontrar dificuldades me ligue, eu vou esperar você sair do trabalho para te ligar em casa.
                                           Quero te dizer que te amo, sinto saudades só de pensar em te deixar aqui sozinho, estarei na casa dos meus pais por volta das oito horas da noite, saiba que jamais viajaria sem você, mas conheço seus compromissos. Deve ser só isso, não consigo ficar aqui escrevendo sem que me dê vontades de beijar mais uma vez sua boca. Ainda tem na geladeira as almôndegas da pra almoçar, um grande beijo no coração de sua noiva que te ama demais.
Atenciosamente: Joanna.

                                           Dobrei a carta e a deixei em cima da mesinha de centro, me levantei a colocando no lugar e liguei para um taxista ao sair do apartamento com minhas malas. Peguei o elevador para chegar até o térreo, cumprimentei o rapaz que fica na recepção e me sentei na poltrona esperando o táxi. Olhei para o lado de fora e senti uma vontade imensa de não partir, mas também estava com saudades dos meus pais, qualquer desastre poderia acontecer eu partiria e depois não os veria mais, é por isso que minha decisão de filha é mais forte, não haverá tempo para remórcio se algo acontecesse comigo, é por isso que tinha que viver o hoje sem olhar para trás. O elevador subiu novamente e desceu em alguns segundos, olhei assustada para ver quem sairia, meus olhos brilharam ao ver Bruno diante de mim usando meu roupão branco, ele parecia estar preocupado, ele se aproximou de mim me olhando:
- você iria mesmo sair assim sem se despedir?
Eu fiquei paralisada o fitando, o abracei me desculpando:
- perdoe-me, não gosto de despedidas.
                                           Ele me beijou a boca tocando em minha nuca, talvez não quisesse que eu fosse embora sem sentir o tremor do arrepiar, o retribui com meus beijos carinhosos, ele se sentou comigo no sofá da recepção e segurando minhas mãos sussurrou:
- tenha uma excelente viajem, mas não se esqueça que te espero aqui com muita saudade, te amo.
                                           Ele voltou a tocar seus lábios nos meus, de repente o motorista do táxi apertou o interfone e eu me levantei o olhando. Bruno me deu um último beijo e voltou para dentro do elevador enquanto eu entrava no táxi com minhas recordações da noite passada. Meus olhos queriam derramar lágrimas, mas as segurei o máximo. Meu celular tocou, vi que era Bruno:
- minha linda, só te liguei pra deixar um beijão e te dizer que vou pensar em você todos os dias...
Meu sorriso ofegante me fez suspirar:
- eu voltarei meu amor, não se preocupe comigo.
É bom amar e descobrir que alguém por ai te ama, mergulhei na conversa para me distrair, pois a saudade é algo que invade o coração e sai em disparada no tremor das lembranças. 




Reencontro


Me coloquei diante do espelho enorme que havia em meu banheiro e me maquiei escondendo meu rosto e me fantasiando com maquiagens, estava sendo assim como uma gueixa que se transforma para esconder sua identidade. Penteei meu cabelo de lado e coloquei meu vestido rosa seduzindo á eu mesma. Em poucas horas estaria parada e despercebida em uma cadeira de cozinha me radiando com meu próprio sufoco e com minha própria personagem que criei com fantasmas. Três horas antes de pressionar meu espírito mal humorado, lá estava eu deitada em uma cama chorando e pedindo para Deus me iluminar, pois me sentia fraca e estressada. Concentrei-me ali diante do pai, pedindo ânimo, sabedoria e vitória, quando uso minha fé sei que tenho muito a ganhar, mas quando disfarço só minto pra eu mesma, é como a roda da vida, não tem escapatória, uma aliança com Deus é algo sublime, extraordinário, mas quando não sabemos lidar com erros, destruímos esse ponto forte de confiança entre um pai e uma filha. Minha mãe veio em minha direção com passos lentos e descontraídos, eu a olhei distraída e com lágrimas em meus olhos algo que sempre preferi esconder deixei ali explícito. Achei que ela me ignoraria, mas com sua mansidão veio a me confortar:
- o que esta acontecendo contigo filha?
Eu a olhei inquieta ainda deitada na cama:

- eu não sei, na verdade passo a maior parte do tempo tentando descobrir, desperdicei tanto da minha vida com besteiras que neste momento não sei pelo que lutar.
Com sua mão macia tirou minha franja de meus olhos e se acomodou na beira da cama junto de mim:
- sabe, quando jovem, não tinha pelo que lutar também, mas hoje vendo meu passado acredito que tive muitas oportunidades, mas o medo me fez regredir e tampou minha visão do que eu realmente precisava. Se hoje você não tem pelo que lutar, como acha que amanhã vai encarar as coisas?
Minha mãe era tudo que eu precisava naquele momento, suas palavras me animavam me guiava, eu era a folha que caiu de uma árvore e deixei me levar pelo vento sem destino. Ela me abraçou com força e murmurou algo em meu ouvido:
- se você não acreditar nos seus objetivos, ninguém fará isso por você...
Seu abraço forte ficou leve ao se afastar de mim, ela se retirou do quarto enquanto eu fiquei olhando para o nada como sempre e pensei:
‘ tudo o que eu preciso é aprender a pescar, se eu estiver ainda pensando que ganharei o peixe nunca saberei pelo que lutar. ’
Aquelas palavras que surgiram em meu pensamento me guiou para a corrida ao invés do prêmio. Reergui-me levantando-me daquela cama, coloquei minha melhor roupa casual e sai de casa, fui atrás de Luan. Andei dois quarteirões e cheguei ao meu destino, apertei a campainha duas vezes em seguida, minha sogra que mal sabia meu sobrenome foi quem me atendeu:
- oi, está procurando o Luan?
-estou...
Meia palavra basta, na verdade achei que minha presença já dizia por mim, mas ignorei este fato enquanto ela abria a porta para eu entrar. Subi correndo a escada e o vi sentado em sua poltrona lendo um gibi. Ele se assustou a meu ver na porta de seu quarto, não consegui me aproximar, ele ficou me olhando com cara de bobo, tive que ter a iniciativa:
-vim aqui te dizer que não devolverei o celular que você me deu, não te devolverei as cartas e muito menos o dinheiro que você me emprestou.
Talvez eu fosse caloteira, mas ele ouviu muito bem o que eu dizia, mas insistiu com continuar a me olhar como se não compreendesse nada do que eu falava:
- o que?!
Eu continue, precisava terminar com aquela situação desconfortável:
- eu te amo, não da pra ficar escondendo algo que nasceu do nada, você não pode ficar me ignorando assim, como se só eu fosse à culpada em estar grávida, 90% da culpa é sua, os outros 10% são meus.
Fiquei ali plantada o olhando, mas queria me jogar nos braços dele feito criança. Mas me contive, ele se levantou jogou na cama seu gibi e se aproximou de mim, tocando minha barriga:
- eu nunca disse que estava te ignorando, só precisava de um tempo pra deixar processar isso no meu cérebro, eu quero ser um bom pai, mas precisamos ir com calma...
Eu o beijei a testa erguendo meu calcanhar e me despedi dele deixando meus pés me levarem para fora daquela casa. Era tudo o que eu precisava ouvir de um rapaz que parecia me amar, sem ver as conseqüências do futuro bem próximo. Fui direto para uma praça onde precisa pensar melhor no que faria, mas precisava me concentrar na vida que crescia dentro de mim. Eu me sentei em um banco de madeira úmida e olhei para as árvores floridas por causa da primavera que chegava de repente em meio aos desafios. Deixei derramar algumas lágrimas só para me aproximar de uma situação melancólica, eu estava deprimindo meus pensamentos e deixando aparentar em minha face que sofria abertamente. Lembrei-me de quando minha mãe dizia ainda no inicio do meu namoro com Luan:
‘ cuidado filha, namorar é muito bom, mas esquenta em cima e ferve em
baixo. ’

Era real, fazia sentido, pois em três meses me entreguei ao amor dele sem ficar me lembrando das palavras sabias da minha mãe. Acredito na sorte que ela destinou á mim quando me olhou pela primeira vez ainda em teus braços, vou aprender a fazer a escolha certa. Cruzei meus braços deixando as lágrimas percorrerem todo meu rosto, senti um toque gelado em minhas costas, me virei rapidamente e vi Luan, ele se sentou do meu lado e me abraçou:
- não fique triste, estamos no mesmo barco.

O abracei ainda sentada e beijei seu lábio carnudo para me recompor, fomos para a minha casa antes que anoitecesse e enquanto eu tomava meu banho com a água quentinha e com o vapor me aquecendo o corpo, Luan conversava com minha mãe, palavras exatas que não saberei com detalhes, mas acreditava que fosse sempre o acaso que deu inicio ao nosso reencontro. Troquei-me colocando meu vestido rosa, maquiando meu rosto como gueixa e fui em disparada para a cozinha me sentando do lado dele enquanto minha mãe preparava um bolo de chocolate. Toquei as mãos dele e apertei fechando meus olhos, não sabia o que poderia vir pela frente, mas tinha certeza do que me fazia efeito naquele momento. Luan esperou minha mãe se distrair e me deu um beijo encantador abraçando-me a cintura que ainda era de se elogiar. Acredito em almas que se reencontram, mas nem sempre fui capaz de acreditar no final feliz, minha história poderia se resumir em ter condições de criar meu bebê sozinha, mas prefiro o romantismo que Luan escreveu no meu coração, posso voltar a chorar, mas sempre terei alguém do meu lado para me reeguer.


Sem rumo


Enquanto eu o via folhear nosso antigo caderno de lembranças, minha avó falava em meu ouvido sem cessar:
             - Está vendo Melice, como ele é paciente em ficar revendo o passado, outro igual será difícil encontrar...
Com certa ironia dizia isso pra mim, a olhei enquanto ela terminava de cozinhar e peguei de sua fruteira uma pera. Antes que eu viesse a morder, ela arrancou a fruta das minhas mãos e a lavou debaixo da torneira:
             - Isso é água corrente querida, serve para lavar frutas.
Bom, como eu nunca gostei de lavar nada, não me incomodei em aprender. Ela me devolveu a pera e aproveitou para falar um pouco mais:
             - Não sei se pretende casar, mas se sim, vai ter que trabalhar muito. Nunca se esqueça de que sua mãe trabalhou até...
Eu a interrompi:
             - Até a morte, eu já sei e não serei como ela, se eu quiser algum tipo de conselho frustrante te procuro...
Levantei-me da cadeira e mordi minha pera, fui até a sala e murmurei para Elizeu:
             - Vamos, já estou atrasada amor.
Ele fechou o caderno me olhou estranhando minha pressa olhou para seu relógio de pulso e questionou:
             - Estamos aqui praticamente meia hora, está atrasada pra quê?
Vi minha avó me olhar da cozinha com uma colher na mão. Eu voltei a me concentrar:
             - Temos que ir, te explico no caminho.
Suas sobrancelhas se ergueram, ele chamou pelo nome da minha avó:
             - Sofi?!
Ela veio de imediato com um sorriso amarelado. Ele se desculpou e em seguida a beijou em seu rosto, eu o imitei, mas fui friamente seca. Saímos dali em direção ao eu carro, ele se sentou no banco do passageiro me olhando como se eu estivesse fazendo algo de errado, sai dali em direção a avenida enquanto ele enchia meus ouvidos com remorcios:
- sabe que sua avó esta doente e ainda a trata assim?

Eu fingi que aquelas palavras não fossem para mim, então o ignorei ligando meu rádio e diminuindo a velocidade para 60 km. Ele continuou a falar, mas abaixou o volume do rádio:

- por que acha que devemos obedecer a suas ordens, sem ao menos uma explicação?

Minha irritação aumentou assim como o suor de minhas mãos no volante:

- da um tempo, ok. Estou fazendo um favor a nós dois, ela fala da minha mãe querendo que eu seja como ela, mas serei eu mesma até que veja ao contrario com minhas próprias auto-criticas. Chega de ser mão.
Percebi que ele estava furioso comigo, mas preferi ignorá-lo mais uma vez, aumentei o volume do rádio, parei no sinal vermelho e ele saiu do carro em disparada sem olhar para trás, apenas bateu a porta como um adolescente rebelde. Fiquei pasma o olhando pelo retrovisor, ele caminhava sentido contrário do que eu, mas desta vez foi definitivo, pois eu já não correria atrás dele feito criança e muito menos pediria uma explicação. Fiquei um tanto em transe, não consegui sair do lugar com meu carro. O farol ficou verde, algumas buzinadas em meu ouvido me fez dar a partida novamente, eu dirigi sem rumo, lembrei-me da minha mãe falando em meu ouvido:

- se você não trabalhar junto com o tempo, o perderá de vista. Nunca se esqueça de trabalhar seu tempo querida...

Aquelas palavras entraram no meu coração, assim como seu olhar ingénuo a tocar meu ombro, ela parecia ser o chefe da casa, deixando meu pai comandar apenas suas próprias cuecas. Eu a olhei despreparada como se aquele fosse meu castigo:

- e se eu não conseguir?

- ai terá a certeza de que nunca tentou.

Sim, sábia como uma mãe corajosa, mas era eu quem não estava preparada para cuidar do meu tempo sozinha. Sai de casa aos meus dezoito anos, pois minha mãe dizia que não trabalharia mais para me sustentar, mas sim para tentar curtir a vida, algo que jamais conseguiu fazer sozinha. Aluguei uma casa de dois cómodos e arrumei um serviço que pra mim teria que ser temporário, pois era atendente de uma loja. Não sei bem o que minha mãe fez comigo, mas ela conseguiu que eu me afasta-se dela. De repente quando me deparo com a avenida ainda parada com o transito, vejo duas ruas logo a minha frente, uma era uma avenida que me levava para a casa do meu pai e a outra era a qual me deixaria em casa, pensei, mas ainda sentia raiva do meu pai por nunca opinar na minha vida, mas ignorei o fato e decidi ir para a casa dele. Dirigi um pouco mais até ver a casa da minha infância, onde nasci e cresci até ser abandonada. Parei o carro de frente para a casa e desci, caminhando sem cessar. Apertei a campainha e vi um senhor me atender de cabelos grisalhos e bengala, era meu pai:

- ora, quem é vivo sempre aparece, lembrou-se do velho?

Nunca teria como esquecê-lo em meio às lembranças, pois ele morava em meus pensamentos. Sorri para ele como se sentisse saudades:

- se não for muita ousadia minha, posso abraça-lo?

Ele sorriu de volta e deixou sua bengala encostada na parede enquanto me dava um forte abraço de consolo. Me sentei no sofá após nosso envolvimento emocional enquanto ele me servia uma xícara de chá verde, se sentou no outro sofá e ficou me fitando com seu olhar solitário. Não queria me lembrar de nada, apenas fingir que amava aquele lugar e disfarçar um tempo ao lado do meu pai, fugir seria a palavra ideal, mas minha mente fraca esqueceu de dizer isso ao meu coração. O olhei com meu olhar ingénuo, um tanto apavorada por estar ali, cada canto daquela casa tinha um pouquinho da minha mãe, seus gestos e seu cheiro, mãe cuidadosa, mas feroz como uma águia. Lembrei-me do seu toque em meu cabelo antes de me mandar embora de sua casa para eu aprender a caminhar sozinha, ela me olhou como se eu fosse uma adulta em meio a tempestade e me abraçou, minhas lágrimas estavam sufocadas querendo sair, mas tive uma leve impressão de fraqueza.
Em meu ouvido murmurou:

- nunca é tarde para fazer a escolha certa, seja o ontem passado, para que as janelas se abrem para o futuro.

Palavras como essas que nunca mais serão ouvidas ou ditas, talvez eu devesse as colocar em prática, pois sempre fiquei na dependência de alguém, nunca soube caminhar com minhas próprias pernas, pois o medo era quem caminhava lado a lado com minha consciência. Ela voltou a me olhar com suas lágrimas de mãe preocupada, mas me guiou para o caminho certo, após sua morta deixei de lado a menina certinha e odiei meu pai por não ter me avisado que minha mãe estava mal de saúde. Lembrei-me do seu ultimo suspiro e a vi ignorar meu pai:

- não seja como eu querida, seja mais forte, busque sempre seu melhor dentro de você... Quero... Que...

Seu ultimo desejo não foi ouvido e muito menos concluído, pois os anjos se apresaram e a levou de meus braços em um estalar de dedo. Terminei de beber o chá e o questionei colocando a xícara na mesinha de centro:

- qual era o ultimo desejo da minha mãe?

Ele vasculhou sua memória, mas em seguida balançou a cabeça de um lado para o outro me negando a dizer o que eu precisava ouvir, eu me levantei furiosa o encarando:

- então saia da minha vida, e eu sairei da sua...

Talvez aquelas palavras não foram as mais sabias, mas minha raiva permitiu que eu saísse dali. Bate a porta da entrada da casa e me dirigi ao meu carro, indo em velocidade para meu apartamento. Joguei as chaves em cima da estante e me joguei em minha cama deixando minhas lágrimas escorrerem. Minha visão escureceu me levando para fora da realidade, mas logo em seguida a realidade voltou a me acordar junto com a luz do abajur que tinha me esquecido de desligar, espreguicei-me e meu telefone tocou, deixei ele tocar umas três vezes sem cessar enquanto abria a janela e via um céu azulado com um sol radiante, na quarta vez não aguentei e atendi ainda com voz lenta e pensamentos sonolentos foi difícil entender que meu pai havia falecido, me desesperei permiti que ele fosse embora sem meu perdão, joguei meu telefone na parede da sala, peguei meu casaco e voltei para dentro do meu carro, dirigi até uma avenida e olhei para o horizonte, me vi sem saída,  sem noção do que realmente queria para a minha vida.

                                     A realidade em meu pés

A água em meus pés descia rápida e fervente para lavar a alma em meio as tempestades, mas o mais interessante é que estava chovendo lá fora e esta noite não tenho hora para sair daqui. Meus olhos simplesmente se fecharam com o ritmo teimoso em que as águas caiam sobre meu rosto, tirei o sal do dia –a –dia esfregando meu corpo delicadamente com meu sabonete liquido aroma de cereja e continuei a me admirar no espelho, olhos com olheiras profundas, sem descanso, mãos enrugadas por causa da água, cabelos molhados e boca tremula. Aquele espelho não só revelava quem eu era, como também o stress da minha carreira profissional, minha mãe sempre me dizia que nunca daria certo uma médica se casar com um policial, ambos sem tempo pra nada, mas fui teimosa deixei meu coração gritar. Eu e meu marido não temos uma boa relação já algum tempo, talvez seis ou sete meses, logo de manhã ele sai atrasado para tomar café com os colegas de serviço, me levanto em seguida para tomar um delicioso banho e colocar meu uniforme branco e preparo um café forte com aroma irresistível e volto para a mesma rotina desde que comecei a fazer horas extras. Alguém na porta do banheiro, desliguei o chuveiro sem ter essa intenção, mas sai dali pegando minha toalha azul escuro e me enrolei abrindo a porta.

Não era de se espantar, Fernando meu esposo com seu uniforme estava parado diante de mim, mas desta vez ele me olhou dos pés a cabeça, talvez com ternura. Eu mordi o canto da minha boca antes de murmurar:

- o que foi?
Ele sorriu e me beijou a boca sem se importar com a umidade, fiquei estirada tentando compreender tal ação indescritível. Enquanto ele se afastava de mim, em um corredor enorme até entrar em nosso quarto. Ignorei tudo aquilo com frieza balançando a cabeça e me enxuguei colocando minha camisola rosa. Bati a mão nos cabelos e penteei me admirando no espelho, ainda podia sorrir, sem ver rugas, isso era o bastante para aquele momento, apliquei todo tipo de creme em meu rosto como manda a mídia, só para me orgulhar da juventude, passei um batom marrom claro como toda noite fazia e sai do banheiro. Ao abrir a porta vi meu esposo saindo do quarto nu segurando uma toalha nas mãos, eu nem o observei como uma mulher observa seu macho, continuei minha longa caminhada até meu quarto e joguei na cama minha toalha. Desci a escada e liguei a Tv para assistir um filme ‘ Terapia do Amor’, peguei meu edredom e deitei no sofá, era raro fazer isso em minhas folgas, mas nada poderia me tirar dali e muito menos me fazer perder o controle. Deitei minha cabeça na almofada e me concentrei no filme. Já estava na metade do filme, quando senti um cheirinho de pipoca de micro-ondas, minha barriga fez sons aterrorizantes, me remexi no sofá e dei uma olhadinha de rabo para a porta da cozinha que estava entre aberta, aquele cheiro, queria devorar, me satisfazer. Não tinha intimidade suficiente e nem espaço com Fernando a ponto de gritar para ele e pedir que me desce um pouco de pipoca. Logo em seguida senti um cheirinho de vitamina, era uma mistura de desejos e fome. De repente ouvi:

- Laura...
Era a voz de Fernando a me chamar e vinha da cozinha, eu me reergui voltando a olhar para a porta da cozinha, ele apareceu de repente com um sorriso charmoso e em mãos estava uma vasilha com muita pipoca:

- o que?!
Eu sabia que ele queria compartilhar comigo, mas não tinha tanta certeza. Dei pausa no filme e voltei a olhá-lo com cuidado. Fernando se aproximou de mim e me ofereceu um pouco, apenas foi esse seu gesto insensível, o olhei com raiva e ele me olhava com o mesmo sorriso de sarcasmo. Queria me vingar, de alguma forma tive a sensação de estar sendo usada. Ele voltou para a cozinha com a vasilha de pipocas e nem me deu uma explicação. Não agüentei, me levantei furiosa e entrei na cozinha gritando enquanto ele estava virado para a pia:

- o que você acha que esta fazendo? É um egoísta, só pensa no seu umbigo...

Estava quase para me virar, quando fui surpreendida com um aperto no meu braço, ele me olhou no fundo dos meus olhos beijando-me a boca como se aquela fosse à primeira vez. Estava sentindo falta disso, mesmo por que pensava que o coração enganava seu dono de tal forma que trouxesse o arrependimento junto de si, mas segurei firme meus pés no chão e sorri para ele depois de me afastar com certa dificuldade. O segurei pelo peitoral e prendi meus dedos nos cabelos dele o puxando para perto de mim, voltei a beijá-lo. Era tudo o que estava faltando na nossa relação e ele também percebeu isso, o arrastei para sala e ficamos ali nos beijando e nos tocando, ele me jogou no carpete e pegou o edredom nos cobrindo:

- Me esqueci por um momento quem era você...

Fernando sabia como usar bem as palavras, mas não consegui me concentrar, pois só queria beijá-lo e me misturar em seu corpo que parecia arder de tão fervente que estava. Meu simples sorriso de menina o cegou e fiz a transferência de contato o cobrindo com meu corpo e colocando o atrasado em dia. Fernando sempre me dizia que o amor ultrapassa os desafios de uma vida inteira, mas eu sabia que aquele pensamento não estava tão certo, pois o amor ultrapassa desafios, mas não limites e nem a definição da indiferença. Meus pés deslizavam nos dele, agora na nossa cama e com o nosso lençol branco perfumado. Ele ergueu a sobrancelha enquanto me olhava dizendo:

- Vou pedir minhas férias...

- Mas você não tem férias, tem trabalhando feito doido durante alguns meses, mas suas férias já foram...

Ele puxou meu queixo para cima e continuou:

- tenho tantas folgas pra tirar, que declaro como férias...

Rirmos juntos de coisas certas de desejos ambiciosos, uns dias seriam perfeito para nosso romance voltar à tona, seria perfeito. Tomei um banho de água fria ao acordar daquele sonho em meio à madrugada, me levantei e olhei para o lado da cama vazia, ele não estava ali como em meu sono. Coloquei minhas mãos em meu rosto e gritei chorando, desabafando. Tudo parecia tão real, mas não passava de um mero sonho com meu anjo, olhei para a cabeceira da minha cama e ainda eram 3:20 hs da madrugada, acendi meu abajur e levantei-me. Abri o guarda roupa e peguei uma blusa de Fernando era sua favorita, vesti e em seguida peguei uma tesoura e comecei a picotar o resto das roupas dele que não tive coragem de me desfazer, estava sendo uma covarde em guardá-las ali comigo. Se alguém entrasse naquele momento em meu quarto, diria que eu estava enlouquecendo, mas tive que fazer. Assim que terminei de rasgar as roupas de meu amado, me ajoelhei no canto da parede próximo ao guarda roupa e fiquei lembrando do olhar doce dele para mim, toda vez que eu chorava, mas também queria estar com ele. Me vi ali sem saída, sendo sufocada pelo abismo, tirar-me a vida e me reencontrar com Fernando era o que mais queria.
Já eram 4:15 hs da madrugada, me reergui e senti-me na varanda do meu quarto, nas mãos segurava uma folha e uma caneta, olhei para o céu acinzentado e comecei a escrever para minha mãe:

‘ Sinto-me só, não era pra ser assim, não precisava ser assim tão doloroso, mas a vida causa surpresas e eu hoje vou fazer uma escolha definitiva que vai magoar não só a você mamãe, mas sim a Fernando que se foi. Ele jamais iria permitir isso se estivesse ao meu lado, mas como ele não esta então tomo esta decisão sozinha. Eu te amo e sempre vou te amar, vou levar comigo minhas lembranças e as suas dores, chore o suficiente até me esquecer, mas saiba que estarei sempre ao seu lado. Você foi um exemplo de mãe e de mulher, me fez ambicionar uma vida melhor e também correr atrás dos riscos, aprendi com você e mais ninguém a ser forte e verdadeira.
Perdoe-me e se não souber me perdoar, pelo menos tente me esquecer, a dor é algo que criamos, não é isso mamãe? Mas eu não consigo controla - lá. Amo você demais e levarei esse amor junto da minha alma ferida. Fala pra tia Nice que ela sempre viverá dentro de mim e pra não se preocupar comigo, pois todas as noites tentarei beijá-la para que durma em paz. Te amo minha gatona e única.’

Para mamãe...


Assim que terminei de escrever, sai dali entrando em meu quarto peguei uma cadeira preparei a forca e subi sem fazer teatrinho, de repente a porta do meu quarto se abriu, vi uma sombra, pensei que já estivesse morta, vi Fernando se conduzindo á mim, ele pegou minha mão e me fez descer da cadeira de madeira com verniz. Ele penetrou em meus olhos com lágrimas nos dele:

- o que pensa em fazer amor? Não posso te perder duas vezes se fizer isso matará nosso amor...

Eu gritei com ele me afastando:

- você se foi e deixou a dor aqui? Como quer que eu viva? Acha que tenho sangue de barata? É melhor que se vá de vez nos encontraremos no inferno se é assim que preferi...

Fernando jogou a cadeira com força na parede me pegando pelos braços:

- se fizer isso será covarde de não enfrentar a distancia...

Eu complementei:

- se eu fizer isso estarei próxima á ti...

- Acha mesmo isso? Esta enganando á quem? Você quer matar a dor, não sua alma, então pare já com isso...

Me joguei na cama mimada gritando:

- você esta morto...

Ele se uniu ao meu corpo e me abraçou sussurrando:

- vivo dentro de você...

Rasguei minha carta e a joguei contra o vento, o abracei e ele desapareceu feito pó. Nem sempre o que queremos é o certo, mas sempre que buscamos força para viver, o desconhecido se torna fiel.

Relembrando do reflexo

Há eu ainda me lembro aquele golpe maravilhoso, cai sentada no meio da sala e acabei sorrindo para a minha avó que me golpeava de lembranças... Minha infância. Eu quem me julgava forte e serena me vi ali aos treze anos deitada em minha cama, tinha acabado de acordar e era o dia do meu aniversário, tinha ao anoitecer uma festa pra mim na casa do meu pai, era tudo o que me lembrava ali sem detalhes e sem esquemas de proteção de qualquer lembrança. Reergui-me da cama e esfreguei minhas mãos em meus olhos dei um salto e peguei meu diário e mentalizei o que poderia escrever ali naquela folha amarelada:

‘ Meu aniversário um dia único para uma pré adolescente, queria eu poder desfrutar do belo e poder sonhar além dos meus limites, mas hoje parece ser um dia especial para mim, parece ser tudo o que sonhei igual meu querido seriado ‘ gilmore girls’ em que a mãe lorelai faz um lindo aniversário para sua querida filha Rory, mas na real não era minha mãe quem faria minha festa, seria meu pai. Sempre sonhei com uma mãe melhor amiga em que seus segredos com ela seria como um baú fechado, mas eu nunca fui boa nisso e ela também não, vou fingir naquela festa ser uma boa garota e fingir gostar daquela mulherzinha ridícula com quem meu pai se casou deixando nosso lar. Bom acho que por hoje é só, meu niver e ainda um dia maravilhoso para viver.’

Fechei meu diário e vi a maçaneta girar, o escondi rapidamente era a minha mãe que entrava com um prato nas mãos e uma caneca de chocolate quente, eu tinha este privilégio café na cama, mas não era sempre assim. Eu me servi ali mesmo sentada na cama enquanto ela arrumava meu quarto. Depois segui com a esperança de ganhar muitos presentes e ainda poder colocar minha roupa preferida um vestido rodado. Olhei para o céu e fiz um pedido em um sussurro:

- Sabe preciso voar e ver as coisas mudar...

Senti uma mão fria me tocar e me virei assustada, era meu avô:

- tudo vai se resolver por si só, o tempo te mostrará...

Ele saiu andando enquanto eu pensava que ela estava certa, me vi no presente vivendo uma vida melhor e sorrindo mais, a vida é aceitável quando se sabe viver e retratar isso é difícil e ás vezes constrangedor. Eu fechei meus olhos sorrindo e voltei abri-los e caminhei até minha família, recebi beijos, abraços e muitas palavras lidas, mas ao anoitecer seria inevitável ver ela. Quando tudo parece estar perfeito sempre tem alguém para atrapalhar, assim que a noite caiu recebi minha festa na casa do meu pai, mas nenhuma amiga minha foi até lá e não tive a festa que sonhava ter, pois minha mãe não estava lá. Um dia me disseram que tudo se resolveria por si só, então vou deixar o tempo agir.